CASO VINÍCOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: COMO AS FERRAMENTAS DE COMPLIANCE PODEM AUXILIAR NA CONTRATAÇÃO ASSERTIVA E NO CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIAS LEGAIS EM TODA A CADEIA PRODUTIVA.
Desde o final do mês de fevereiro,
os veículos de comunicação estão abordando a crise institucional relacionada às
vinícolas brasileiras localizadas na Serra Gaúcha. A operação deflagrada pela
Polícia Federal, pela Polícia Rodoviária Federal e pelo Ministério Público do
Trabalho (MPT) resgatou mais de duzentos trabalhadores baianos contratados por
uma empresa terceirizada, vivendo em situação degradante e exercendo as suas
atividades em situação análoga à escravidão.
Após toda repercussão sobre o
assunto, as empresas posicionaram-se afirmando que não tinham conhecimento
sobre o ocorrido e firmaram acordo com o MPT. Além das vinte e uma obrigações a
serem cumpridas pelas empresas, com o intuito de aprimorar o processo de tomada
de serviços, elas efetuaram o pagamento no valor total de sete milhões de reais
- o que não foi suficiente para frear a reprodução
negativa nas mídias sociais.
Tal situação reforça a importância
de as companhias utilizarem, de forma rígida, segura e assertiva, as
ferramentas de compliance com o objetivo de mapear/identificar possíveis
irregularidades e prevenir as empresas eventuais riscos financeiros, jurídicos
e reputacionais, de modo a fiscalizar, rigorosamente, o cumprimento das normas
legais, principalmente quando há necessidade da contratação externa.
Quando as ferramentas não são utilizadas
de forma efetiva, a companhia fica na iminência de realizar uma contratação irregular
e que não esteja parametrizada pelos aspectos legais em toda a sua cadeia
produtiva. Essa conduta negligente pode desencadear o pagamento de multas
elevadas - comprometendo a saúde
financeira da empresa –, responsabilização reconhecidas em ações judiciais,
além de desonrar à marca empresarial no mercado concorrencial.
Assim como o background check
(verificação de antecedentes), a due diligence é bastante utilizada nessa
fase de contratação/investigação. A análise minuciosa em processos como “Know
Your Partner” – conheça o seu parceiro – servem de instrumento para gestão
de fornecedores terceirizados, como forma de conhecer e obter informações
aprofundadas sobre os parceiros que poderão participar da cadeia produtiva e
integrar o negócio.
Com isso, os controles internos voltados
para os aspectos de integridade e legalidade são capazes de: (i) mapear,
identificar e avaliar as aspectos frágeis vinculados à relação
comercial/contratual; (ii) falicitar a obtenção de informações e
subsídios necessários para tomada de decisões assertivas e que agreguem valor a
organização; (iii) estabelecer relação com empresas (fornecedores e
parceiros) que exercem as suas atividades em consonância com as normas legais previstas
no ordenamento jurídicos, diretrizes nacionais e internacionais; (iv)
proteger a empresa em face dos possíveis danos reputacionais, tendo em vista
que a imagem/reputação da companhia é um grande ativo empresarial e um
diferencial na perpetuação da empresa no mercado.
O caso em tela demonstra que a falha
na gestão dos fornecedores e o argumento sobre o desconhecimento das
irregularidades contidas nas operações não eximem a responsabilização da
empresa, assim como não isenta o posicionamento negativo perante os clientes
que esperam adquirir/usufruir de produtos/serviços pautados nos valores éticos
e que eles sejam resguardados em toda a sua cadeia produtiva.
Sabemos que as vinícolas envolvidas
irão enfrentar grandes desafios nos próximos meses para retomar a sua
credibilidade perante o mercado, mas se espera que casos como esses sirvam de
lição para que as medidas preventivas façam parte da rotina das empresas e que sejam
utilizadas na identificação/mitigação de riscos operacionais. Discursos
negacionistas não são mais tolerados e não são bem vistos pelos consumidores que
consomem os produtos das marcas envolvidas.
Com o crescimento exponencial do uso da internet e das redes sociais, o valor da empresa pode ser arruinado em questão de segundos. A postura negligente pode prejudicar o posicionamento construído por anos, sendo esse um fator primordial para a manutenção das atividades empresariais e, consequentemente, a rentabilidade do negócio!
*Advogada, especialista em direito empresarial pela FGV, curso de extensão em Compliance e Direito Digital pelo Insper.
Autora de
diversos textos publicados pela Editora Mente Aberta. Confira os livros aqui: https://www.editoramenteaberta.com.br/
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